terça-feira, 12 de janeiro de 2016

No salão do Titanic (Luta por Direitos)

Rudolf Von Ihering foi um alemão pauleira, mais um deles. Hoje quando se cita ou se faz referência a ele, soa arcaico, o que é uma tremenda injustiça, pois ele é muito atual. O que define uma ciência, dentre outros critérios, é a estabilidade dos seus conceitos. Ihering deu sua contribuição para o Direito em um grande tratado, curto, mas conceitualmente grandioso.
Impregnado de premissas jurídicas inarredáveis, seja na Alemanha do seu tempo (Weimar - virada do século 19), seja no Brasil de hoje, seja em Marte. Um livreto maravilhoso intitulado A Luta pelo Direito.
A ideia central é logo enunciada no introito: "A paz é o fim que o Direito tem em vista, a luta é o meio de que se serve para o conseguir. Por muito tempo pois que o direito ainda esteja ameaçado pelos ataques da injustiça - e assim será enquanto o mundo for mundo - nunca ele poderá subtrair-se à violência da luta."
Desdobrando seu enunciado, ele ensina também que uma nação que se cala à violação de um direito - um sequer - sanciona de uma vez sua condenação a não mais existir como é. O povo que assiste à perda de um direito apenas, e se cala, deixando impune o agressor, em breve verá usurpado os demais, até que deixe de existir como Estado. E ele conclui: "Tal povo não merece melhor sorte."
Deveríamos ir à luta, conforme ensinou Ihering, para resgatar nossos direitos de cidadania. Mas não o fazemos. Nossa nação foi facilmente construída, nossos direitos, especialmente nossos bens, foram docilmente conquistados e por isso deles cuidamos como se não fossem parte de nós. Olvidamos ou não percebemos que o direito - e o bem que ele nos assegura - é extensão de nossas vidas, de nossa personalidade. Fossem conquistados com nosso próprio sangue, pela luta, talvez não nos omitíssemos.
Melhor dito na bela prosa científica de Ihering: "Como uma mãe que deitou seu filho ao mundo, no risco da própria vida em um parto, não deixará que o tome, também um povo não deixará jamais roubar os direitos e as instituições que conquistou à custa do próprio sangue." Mas desventuradamente não somos assim. Cada vez mais, nada melhor nos define do que a indolência atribuída aos nossos índios.
Digo agora eu - não o Ihering - que neste momento estamos dançando valsa no salão do Titanic. Talvez ainda seja possível salvar o barco, mas o esforço exigível, conforme evolui nosso drama, torna-se maior. E não demonstramos aptidão nenhuma para a luta.
E nós, bebendo vinho e dançando valsa...


 Eugênio José Cesário Rosa (10/01/2016) é desembargador do TRT de Goiás, e é doutorando em direito pela Universidade de Lisboa.

Nenhum comentário:

Postar um comentário